Há pouco fui interrogada como podemos fazer para gostar de ler. Era uma jovem de uns 20 e poucos anos. Bonita, simpática, educada, e já no mercado de trabalho.Em louvor a esta arte, é meu intuito reativar o interesse por sua importância, reavivando-a na lembrança dos quem escutam. Afinal, quem não se lembra de alguma história ouvida na infância? (COELHO, 1998, p. 8)
Parei antes de responder. Esta não era uma pergunta esperada e nem uma resposta fácil. Em segundos pensei: Como pode alguém tão jovem e já no mercado de trabalho não gosta de ler?
Olhei para ela e disse:
- Depende? Se for uma criança é fácil, mas se for um adulto é preciso treinar. Em poucas palavras lhe disse que para cada idade há estratégias diferentes e que no caso dela era preciso estabelecer uma rotina de leitura e escolher um horário que não estivesse cansada.
Ela disse-me que não gostava de ler e quando pegava um livro logo vinha o sono. Sei que este é um problema não só de uma jovem brasileira, mas de grande parte da nossa população e advém da nossa falta de cultura de ler para nos informar, nos divertir ou mesmo estudar. Os índices estão ai para nos alertarem, mas nem sempre os adultos percebem a importância da falta de leitura.
Um adulto ter esta preocupação e externá-la me chamou muito atenção. Logo, pensei nos objetivos da educação infantil e questionei o fato desta ser um lugar de desenvolvimento da linguagem oral e escrita e, em muitos casos, não cumprir com o seu papel. Lembrei-me
Inventar, ler e contar histórias são tarefas importantes nas creches e pré-escolas. A narrativa para crianças pequenas envolve todas as oportunidades de interação que a criança tem com seu mundo imaginário. Ouvir e ler histórias de várias formas, fazer de conta, dramatizar com fantoches as leva a apreender melhor a realidade. (SILVA; COSTA; MELLO, 2006, p. 91)
Pelos meus cálculos aquela moça vivenciou a pré-escola, e não participou de atividades realmente significativas no campo da linguagem, o que a levou a tal desinteresse pela leitura. E este fato nos leva a perceber que a literatura precisa ganhar lugar de destaque nas escolas e deixar de ser utilizada na educação infantil como forma de manter os pequeninos calmos e organizados a espera dos seus pais.
Nas salas infantis devem ter momentos e atividades diferenciadas que propiciem o gosto pela leitura. Por isso, é preciso que haja uma preocupação com o planejamento destes momentos, escolhendo as estratégias adequadas para cada tipo de história, de modo que além do hábito estes sejam momentos que promovam o prazer pela leitura.
Há quem conte histórias para enfatizar mensagens, transmitir conhecimentos, disciplinar, até fazer uma espécie de chantagem – “se ficarem quietos, conto uma historia”, “se isso”, “se aquilo...” – quando o inverso é que funciona. A história aquieta, serena, prende a atenção, informa, socializa, educa. Quanto menor a preocupação em alcançar tais objetivos explicitamente, maior será a influencia do contador de historias. O compromisso do narrador é com a história, enquanto fonte de satisfação de necessidades básicas das crianças. Se elas as escutam desde pequeninas, provavelmente gostarão de livros, vindo a descobrir neles historias como aquelas que lhes eram contadas. (COELHO, 1988, p. 12)
Os educadores precisam apreender que ler para e na sala de aula é algo importantíssimo para o desenvolvimento da criança pequena, e que além do aumento de vocabulário e desenvolvimento da linguagem propicia saberes em outras áreas. Já que “A história não acaba quando chega ao fim. Ela permanece na mente da criança, que a incorpora como um alimento de sua imaginação criadora.” (COELHO, 1998, p. 59).
Tornar-se um contador, então, faz parte do perfil necessário para ser um professor da Educação Infantil. Uma vez que: "Um contador de histórias educa, socializa, informa e desperta a imaginação das crianças na creche" [e na pré-escola], segundo Costa (2006, p. 89).
As atividades de leitura ao serem bem planejadas possibilitam à criança a construção de um repertório de vivências que lhe dá condições de atuar em diferentes situações, de se reconhecer tanto nas personagens quanto nas situações ali descritas. Coelho nos alerta, dizendo:
Constatada a importância da historia como fonte de prazer para a criança e a contribuição que oferece ao seu desenvolvimento, não se pode correr o risco de improvisar. O sucesso da narrativa depende de vários fatores que se interligam, sendo fundamental a elaboração de um plano, um roteiro, no sentido de organizar e assegurando-lhe naturalidade. O roteiro possibilita transformar o improviso em técnica, fundir a teoria à prática. (1988, p. 12-13)
Conhecer a história, lê-la inúmeras vezes, observar os detalhes e estudar cada um deles ajuda o professor a ganhar intimidade com ela, adaptar a linguagem dos livros a sua turma (se necessário) e ter sucesso na hora de contá-la. Na educação formal, também,
Sempre que possível, convém propor atividades subseqüentes. As chamadas atividades de enriquecimento ajudam a “digerir”, esse alimento num processo de associação a outras práticas artísticas educativas. A história funciona então como agente desencadeador de criatividade, inspirando cada pessoa a manifestar-se, expressivamente, de acordo com sua preferência. (COELHO, 1998, p. 59)
Ao finalizar uma história é preciso ter momentos para comentá-la, aumentando o deleite do ouvinte. Contudo, não há obrigatoriedade em se propor para cada história narrada uma atividade estruturada e nem tão pouco o levantamento de questões interpretativas na conversa após a história. Para Coelho
Comentar não significa propor questões interpretativas e muito menos destacar a mensagem contida na história. A criança por si só percebe essa mensagem e a revela nas colocações que faz. São comentários interessantes, oportunos, engraçados, algumas vezes denunciando conflitos existenciais. O comentário do ouvinte evidencia o efeito da história contada e oferece condições de avaliar sua maior ou menor repercussão. [...] (COELHO, 1988, p. 57)
E a partir deste efeito da história contada o educador pode avaliar a sua atuação e buscar novos caminhos no intuito de levar seu aluno à busca do prazer pela leitura.
A Educação Infantil precisa, em suma, incluir em sua rotina diária (nas atividades permanentes) a “Hora da História”. O livro (o objeto) precisa estar presente nesta hora, indiferente da técnica escolhida e a ele deve ser dado destaque. O educador infantil precisa embebedar-se de histórias infanto-juvenil, vivenciar este mundo mágico e conhecer os recursos e técnicas que enriqueça a narrativa e levem prazer às atividades de leitura. À criança pequena deve ser assegurado o prazer no ato de aprender, por meio de atividades lúdicas de leituras significativas.
No site kidleitura.com, no endereço: http://www.kidleitura.com/, há um contador de histórias on line, para crianças em fase inicial de alfabetização, e pode ser utilizado em escolas de educação infantil e em casa na companhia dos pais.
Para saber mais, leia:COSTA, Edna Ap. A. da. As histórias de um contador. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2006.
As histórias, sob a ótica das crianças. Faixa etária: 0 A 3 anos. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/>.
Dicas de atividades:As histórias, sob a ótica das crianças. Faixa etária: 0 A 3 anos. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/>
SILVA, Lésia M. Fernandes; COSTA Edna Ap. A. da; MELLO Ana Maria. Os contos que as caixas contam. 8. ed. In: Os fazeres na Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2006.
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